No inicio da década de 80, a industria náutica brasileira era comparada a industria náutica americana da década de 20.
Ainda estávamos engatinhando em tecnologia de construção de barcos em fibra de vidro. Barcos de “alta tecnologia” para nós eram aqueles construídos com pesados cascos sólidos de fibra de vidro e os conveses eram construídos em madeira. Estruturas sandwich raramente eram usadas e quando construíamos algum casco com esta estrutura utilizávamos, como núcleo, madeira ou poliuretano de alta densidade, sempre a titulo experimental.
Como conseqüência, pagávamos o preço do pioneirismo com sérios problemas estruturais, incluindo delaminação de cascos, como ocorreu com uma serie inteira de lanchas de 45 pés no Rio de Janeiro.
Foi nessa época que um empresário de Joinville (Santa Catarina) encomendou ao lendário projetista americano Tom Fexas, o desenho de um Motor Yacht de 86 pés.
Este projeto era considerado para os americanos como “semi high tech” com um casco construído em fibra de vidro e estrutura sandwich com núcleo de PVC de baixo peso. Ate então, no Brasil, nunca tinha sido construído barco semelhante a este, em tecnologia.
Este empresário convocou funcionários de sua própria empresa e formou uma grande equipe sem nenhuma experiência em construção naval, pois os profissionais especializados estavam no eixo Rio de Janeiro – São Paulo, com exceção de mim, é claro. Eles não sabiam mas estavam fazendo historia na industria náutica brasileira.
Este Motor Yacht se chamava “Fabiola” e foi um completo sucesso. É claro que houveram muitos problemas durante a construção, pois ela servia de aprendizado para todos os profissionais envolvidos , mas todos os problemas foram resolvidos a contento.
Graças a esta obra houve uma mudança radical na industria náutica brasileira, e como que por milagre, quase todos os estaleiros passaram a adotar na construção de suas lanchas, estrutura 100% sandwich com núcleo de PVC, abrindo as portas do mercado internacional para os estaleiros brasileiros e seus profissionais, como foi o nosso caso, em que exportamos tanto embarcações, quanto moldes para construção em serie para estaleiros americanos após esta obra.
Por isso podemos dizer que o Fabiola foi um divisor de águas na historia da industria náutica brasileira, pois esta historia é dividida em antes e depois do Fabiola.
Marcos Lodi
Bom dia Marcos.
Meu avô fez parte da equipe de marceneiros que trabalhou no Fabíola e sempre relembra os desafios que enfrentou na construção. Tem informação de onde anda essa embarcação?
Obrigado.